Para desgosto dos reaças, cubanos não fogem da Ilha

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Em um ano, 185 mil cubanos vão ao exterior. Fracassou a previsão de que viagens internacionais levariam a uma guinada política e econômica.

Peter Orsi, via Associated Press

Em fevereiro do ano passado, Amália Reigosa Blanco experimentou pela primeira vez a corrida de um avião decolando. Visitou lojas de roupas da capital da moda da Itália e percorreu ruas calçadas de paralelepípedo ecoando uma língua desconhecida. Descobriu como é a neve. E depois voltou para Cuba.

No fim de novembro, 185 mil cubanos tinham partido para o exterior em 258 mil viagens, informou um funcionário da migração no mês passado. Isso representa um aumento de 35% sobre o ano anterior.

“Espero poder sair de novo em férias”, disse a estudante de línguas, de 19 anos, abrindo um largo sorriso ao lembrar sua primeira viagem ao exterior para visitar a família em Milão. “Adoraria conhecer Paris.”

Amália foi uma das primeiras em Cuba a aproveitar as novas normas sobre viagens que esta semana completam um ano. Com elas, o governo eliminou um requisito de visto de saída que durante cinco décadas dificultava a ida ao exterior da maioria dos moradores.

Durante muito tempo, a medida foi justificada como necessária para impedir a evasão de cérebros já que médicos, atletas e outros cidadãos talentosos eram atraídos para fora da ilha socialista com a promessa de riquezas capitalistas.

Um ano depois da nova lei, uma quantidade recorde de cubanos viaja. Alguns não voltaram, mas não há sinais do êxodo em massa que chegou a ser previsto. Dissidentes estão saindo, voltando e melhorando seu perfil internacional – e sua condição financeira. Mas houve pouco impacto em sua capacidade de realizar uma transformação política em casa.

“Estou certo de que houve uma resistência interna à reforma migratória. Sei que, em alguns casos, ministros disseram ‘todos os médicos vão sair’ e posso imaginar algumas pessoas no aparelho ideológico dizendo ‘se deixarmos os dissidentes viajar, isso vai ser terrível’”, disse Carlos Alzugaray, um ex-diplomata e conhecido intelectual cubano. “O que a vida mostrou? Eles fizeram a reforma e não aconteceu nada.”

Cerca de 66 mil cubanos viajaram para os EUA durante o período, uma cifra que aparentemente inclui todos, de turistas a moradores com vistos de imigrantes, de pesquisadores em intercâmbios acadêmicos a cidadãos com dupla cidadania espanhola e cubana que podem entrar nos EUA sem visto.

Ania Roman, de 46 anos, funcionária de uma loja de cosméticos, foi a Miami em março, mas mesmo as ruas limpas e calmas do bairro onde seu irmão vive não foram atrativo suficiente para ela ficar. “Por que não fiquei? Simplesmente porque tenho uma mãe de 68 anos aqui e meus filhos. Não vou deixá-los. Quero viver em Cuba.”

Retorno
Somente 40% dos viajantes, ou 26 mil, retornaram à Ilha até agora. Isso significa que 40 mil cubanos continuam no exterior – comparável ao número de imigrantes cubanos para os EUA em 2012.

Não há maneira de conhecer seus planos, mas muitos provavelmente acabarão retornando à Ilha, após encerrar o ano acadêmico, por exemplo, ou aproveitar uma nova provisão da reforma sobre viagens que permite que os cubanos fiquem no exterior por dois anos sem perder seus direitos de residência.

Cubanos que permanecerem nos EUA por pelo menos um ano se qualificam a ter residência neste país e isso significa que pela primeira vez alguns poderão levar vidas “binacionais”.

Ainda há barreiras às viagens, como o preço das passagens aéreas e a dificuldade de obter vistos de países que veem os cubanos como possíveis imigrantes. Mas parece inevitável que a lei acarretará um pequeno aumento da emigração, ao menos enquanto a economia cubana permanecer tão fraca. Outros partirão para escapar do comunismo, embora os emigrantes mais recentes tenderam a sair mais por oportunidades financeiras do que por liberdade política.

Tradução: Celso Paciornik

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10 Respostas to “Para desgosto dos reaças, cubanos não fogem da Ilha”

  1. pintobasto Says:

    Pedro quem lhe disse que Fidel Castro e as lideranças do partido vivem nababescamente? Tenho muitos amigos médicos cubanos desde os tempos de África e todos mencionavam que os dirigentes de Cuba davam grandes exemplos duma vida muito comedida. Os cubanos estão agora viajando para onde quiserem e voltam para Cuba, não fogem. O povo cubano é muito solidário e nacionalista politizado. Seu nível de educação mostra tudo!

  2. Pedro Says:

    Sr. Marcos Pinto, gostaria que me respondesse, se é JUSTO, que o povo de Cuba viva tão “regradamente”, enquanto que Fidel e/ou seus partidários, vivam nababescamente…

  3. Marcos Pinto Basto Says:

    Dayse, éisso mesmo! Viva Fidel Castro ! Viva o grande povo cubano!

  4. Dayse do N. Silva Says:

    Grande e Bravo é o Povo Cubano.
    Cuba, embora tendo tão próximo o maior País capitalista deste Planeta, não se deixou enredar.
    Fidel Castro, empreendendo grande luta, tirou do poder o lesa-pátria do Fulgência Batista, instalando, então, em Cuba, no início dos anos 60, um novo governo sob o regime socialista.
    A partir do governo do grande Comandante Fidel, o Povo Cubano passou por profundas transformações irreversíveis.
    Cuba tem um dos melhores sistemas universais de educação e saúde deste Planeta.
    Castro mostrou ao Mundo a responsabilidade e o amor com que governou e governa o seu o seu Povo.
    Viva Fidel! Viva o Grande Povo Cubano!

  5. pintobasto Says:

    Joaquim Caldas que entendes por pátrio? Não conheces a história de Cuba, muito menos a de Fidel Castro e fica sabendo que a esmagadora maioria dos cubanos venera Fidel.
    Tua opinião sobre Cuba e Fidel obedece à cartilha que a CIA distribuia diáriamente nas lavagens cerebrais, mas não aprendeste tudo.

  6. Joaquim Caldas Says:

    Pinto Bastos,você não é pátrio!
    A ordem de Fidel é complicar na saída dos cubanos revoltados.A fuga é o meio de escapar da prisão vitalícia cubana.Fidel Castro é um rato podre dono da maior carceragem do mundo.

  7. Ivo Miranda Gomes Says:

    Boa muito boa! Mas ad cotas raciais não são palhaçadas!

  8. pintobasto Says:

    Clóvis, como explicar tudo isso a mentes empedernidas por tanta lavagem cerebral. Ainda há pouco vi uma mensagem em que o autor xingava Fidel Castro, logo ele que é o orgulho dos cubanos. Por toda a África, Fidel Castro é muito respeitado pelo grande apoio que deu aos movimentos anti-coloniais.
    Fidel sempre foi o meu herói!

  9. Clovis Pacheco F. Says:

    Uma coisa são os cubanos. Gente normal. Outra, os gusanos. Rimam, mas são coisas diferentes. Gusano quer dizer verme!

    Os gusanos são os cubanos que vivem xingando o regime que em 1959 tirou Cuba da miséria, da vergonha de ser a putaria dos norte-americanos, que iam se esbaldar com as e os “de menor” de lá, fazer coisas que nos Estados Unidos dariam cadeia brava, sob acusação de pedofilia, mas que a ditadura do nefando ex-sargento telegrafista autopromovido a general Fulgencio Batista permitia. Com amplo apoio da Máfia americana aliada ao departamento de Estado daquele país, diga-se.

    Foi o regime que os gusanos repudiam que deu escola a todos, e possibilitou a Cuba ser o segundo país da América Latina a acabar de vez e a sério com o analfabetismo, depois da Costa Rica, que o fez em 1898. O terceiro foi o Uruguai e o quarto, a Nicarágua. Os “Istêites” até hoje não conseguiram isso. E nós, brasileiros, continuamos com perto de 10% de nossa população totalmente carente de letras, sem falar do analfabetismo funcional. Do analfabetismo político, nem se fala.

    Quanto à saúde, hoje Cuba se dá ao luxo de exportar médicos, dentistas e enfermeiros para todo o mundo. O que, no Brasil, provoca a ira dos assim chamados coxinhas. E por que o consegue? Porque tem mais médicos que precisa para sua economia interna!

    Resolveu o problema da casa própria, estatizando as casas de aluguel possuída pelos rentistas. Acabou com a agiotagem, que era uma praga nacional, tal como o proxenetismo.

    Garantiu empregos para todos, quando antes mais da metade da população – que era majoritariamente rural – vivia sob o regime do trabalho sazonal.

    E garantiu o acesso da universidade a todos, sem precisar da palhaçada das cotas raciais. E olhe que em Cuba a escravidão negra é mais antiga que no Brasil, porque começou maciçamente logo que foram extintos os índios lá escravizados pelos colonizadores, nos meados do século XVI, e só terminou em 1885.

    Dá para ver porque os cubanos não fogem, só os gusanos, que estão loucos para viver em Miami?

  10. Para desgosto dos reaças, cubanos não fogem da Ilha | EVS NOTÍCIAS. Says:

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