Luiz Oss, via Tudo de novo no front
Karl Marx (1818–1883) escreveu que o pensamento predominante em uma sociedade é pertencente à sua classe dominante; logo aqueles que estão inseridos na injusta base da pirâmide tendem a compartilhar das mesmas ideias vindas do topo. O responsável por moldar a opinião pública conforma a “imagem e semelhança” de seus idealizadores é a grande mídia, que não poupa esforços para enaltecer determinadas personalidades em detrimento de outras, conforme os seus interesses políticos.
Este tipo de atitude está sintetizado no modo como os veículos de mídia encararam o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso e de seu sucessor, o presidente Lula, e este foi o tema de uma dissertação de mestrado realizada pelo jornalista Eduardo Nunomura, da USP, que enfatiza a intenção da mídia brasileira em tratar FHC como uma vítima de seus correligionários, e Lula como sendo coautor do suposto escândalo do “mensalão”.
Eduardo Nunomura que havia anteriormente trabalhado no jornal Folha e na revista Veja, iniciou um estudo comparativo dessas publicações com relação à cobertura realizado sobre escândalos de corrupção ocorridos durante ambos os governos. Ficou evidente para Nunomura que houve um favorecimento ao governo FHC, como por exemplo, durante o famoso caso do “Dossiê Cayman” em que apontava que figuras proeminentes do PSDB possuíam contas em paraísos fiscais; Pois em relação ao suposto caso do “mensalão”, os escândalos envolvendo o PSDB tiveram menor notoriedade jornalística, sendo logo abafados pelo silêncio midiático, porém o escândalo atribuído ao PT foi exaustivamente explorado havendo até mesmo condenação prévia por parte dos jornalistas, antes mesmo que houvesse prosseguimento das investigações dos supostos envolvidos.
Esta campanha difamatória perpetrada pela grande mídia atingiu o seu ápice quando a Folha havia mencionado acerca do “impeachment” do então Presidente Lula, antes mesmo que a própria oposição cogitasse tal hipótese. É evidente que toda essa investida impetuosa e virulenta dos meios de comunicação nos faz lembrar o episódio do primeiro golpe de Estado televisivo da História, quando em 11 de abril de 2002, canais de televisão da Venezuela haviam editado imagens de um confronto iniciado por opositores do governo de Hugo Chavez, de modo que sugerisse que chavistas efetuaram disparos contra a população. Depois de incitar à revolta, empresários e soldados de alta patente consolidaram com o golpe, que depois ficou confirmado que havia apoio do governo dos Estados Unidos. Chavez foi deposto por 48 horas até que houve um espontâneo levante popular exigindo que os golpistas entregassem o poder para o Presidente legítimo.
Claro que não acuso a mídia brasileira de pretenderem realizar algo do gênero – não por enquanto –, este paralelo é apenas para termos uma noção de que é uma ingenuidade acreditarmos que um jornal seja 100% imparcial, isso é o mesmo que pensar que todos os jornalistas não possuem qualquer preferência ideológica ou partidária; o que na prática sabemos que não é verdade, como quando a imprensa brasileira boicotou o livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que foi ex-repórter da revista IstoÉ e do O Globo, cuja obra aborda as privatizações realizadas durante o governo de FHC, e que revelou que entre 1993 e 2003, houve lavagem de dinheiro através de empresas de fachada que atuavam em paraísos fiscais. A omissão da grande mídia acerca deste trabalho de 12 meses de investigação nos faz questionar o que venha a ser este “jornalismo de credibilidade” que eles tanto se vangloriam.
Deste modo, fica claro que o compromisso não é necessariamente com os fatos, mas com as versões destes mesmos fatos; e que nenhum meio de comunicação está isento de possuir dois pesos e duas medidas.
10 de janeiro de 2014 às 6:19
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10 de janeiro de 2014 às 0:20
Faço das tuas palavras (escritas) as minhas, caro Miguel Baia Bargas!!!
9 de janeiro de 2014 às 21:26
Caramba, Gabriel!
Quero comprar seus livros.
Você deve saber mais que Karl Marx.
9 de janeiro de 2014 às 20:37
Marx estava errado. Aliás, em quase tudo. O pensamento dominante vem das classes mais baixas,.Apenas elas têem pouca voz ativa.