Ministério Público e Polícia Federal fazem rastreamento e encontram indícios de que parte do dinheiro desviado no escândalo do Metrô pode ter alimentado campanhas do PSDB, inclusive a de FHC em 1998.
Mário Simas Filho, via IstoÉ
O Ministério Público Federal e a PF começaram na última semana uma sigilosa investigação que, entre os procuradores, vem sendo chamada de “Siga o dinheiro”. Trata-se de um nome que traduz literalmente o objetivo da missão, que consiste em fazer um minucioso cruzamento de dados já coletados em investigações feitas nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil, seja pela PF, pelo Ministério Público Federal e pelo MP de São Paulo, envolvendo os contratos feitos pelas empresas Alstom e Siemens com o governo de São Paulo. “Temos fortes indícios de que parte do superfaturamento de muitos contratos serviu para abastecer campanhas do PSDB desde 1998, especialmente as de Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas”, disse à IstoÉ, na manhã da quinta-feira, dia 15, um dos procuradores que acompanham o caso. “Mas acreditamos que com os novos dados que receberemos da Suíça e da Alemanha chegaremos também às campanhas mais recentes.” Sobre a campanha de 1998, os procuradores asseguram já ter identificado cerca de R$4,1 milhões que teriam saído de contas mantidas em paraísos fiscais por laranjas e consultores contratados pela Alstom para trafegar o superfaturamento de obras do Metrô, da CPTM e da Eletropaulo. “Agora que sabemos os nomes de algumas dessas empresas de fachada será possível fazer o rastreamento e chegarmos aos nomes de quem participou das operações”, diz o procurador.
Dos cerca de R$4,1 milhões, os procuradores avaliam que R$3 milhões chegaram aos cofres do PSDB através de um tucano bicudo, já indiciado pela Polícia Federal. Trata-se do atual vereador Andréa Matarazzo, ex-ministro de FHC, secretário de Covas e Serra. Em 2008, quando explodiu o esquema de propinas da Alstom na Europa, documentos apreendidos por promotores da França mostravam que a empresa pagou “comissões” para obter negócios no governo de São Paulo. De acordo com memorandos apreendidos pela justiça francesa, a Alstom pagava propinas equivalentes a 7,5% do valor dos contratos que eram divididos entre as finanças do PSDB, o Tribunal de Contas do Estado e a Secretaria de Energia. Em 1998, época em que teriam sido assinados os contratos superfaturados, Matarazzo acumulava o comando da Secretaria de Energia e a presidência da Cesp, as principais clientes do grupo Alstom no Estado. Antes disso, em novembro de 2000, tornou-se pública uma planilha que teria listado a arrecadação de campanha não declarada pelo Diretório Nacional do PSDB. Segundo essa lista, Matarazzo seria o responsável por um repasse de R$3 milhões provenientes da Alstom. Ele nega. Diz que não fez arrecadação irregular de recursos e que apenas reuniu alguns empresários para obter ajuda financeira à campanha, de forma regular e declarada. Sobre o indiciamento, afirma que já recorreu judicialmente.

Registros: Em depoimento, lobista admite que recebeu no Brasil recursos de empresas ligadas a Alstom instaladas em paraísos fiscais.
Outro R$1,1 milhão que os procuradores já têm rastreado teria vindo de contas mantidas por empresas instaladas em paraísos fiscais. Uma dessas contas se chama Orange e o detalhamento do esquema de recebimento do dinheiro vindo da Alstom foi revelado ao Ministério Público paulista por um ex-lobista da empresa, hoje aposentado, Romeu Pinto Júnior. No depoimento a que IstoÉ teve acesso, ele admite que recebeu no Brasil US$207,6 mil do Union Bancaire Privée de Zurique, em outubro de 1998, e outros US$298,8 mil em dezembro do mesmo. Agora, os procuradores estão seguindo outras duas remessas feitas a Pinto Júnior pelo Bank Audi de Luxemburgo, entre dezembro de 2001 e fevereiro de 2002. A primeira soma US$245 mil e a segunda, US$255 mil. Todo esse dinheiro, segundo o procurador, passou por uma empresa no Uruguai chamada MCA. Além dela, a equipe está investigando contas em nome da Gateway e da Larey, ambas operadas por Arthur Teixeira, um dos lobistas delatados pela Siemens ao Cade, e identificadas como pontes para o pagamento de propinas.
Entre os documentos que o Ministério Público Federal recebeu da Suíça e da Alemanha estão dados que podem comprometer David Zylberstajn. Segundo o procurador ouvido por IstoÉ, ele teria sido um dos pioneiros a estimular a formação de cartéis, principalmente na área de energia. Só depois de rastrear todos os dados bancários obtidos nas investigações feitas fora do País é que os procuradores pretendem começar a tomar depoimentos. Os responsáveis pelas investigações avaliam que a parte mais difícil do rastreamento será feita a partir do próximo mês, quando pretendem fazer um paralelo dos dados já levantados com o que poderá vir a ser fornecido por empresas que trabalharam nas campanhas eleitorais.
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Tags: Alstom, Cade, Campanha eleitoral, CPTM, David Zylberstajn, Décio Tambelli, Geraldo Alckmin, Governo, José Jorge Fagali, José Luiz Lavorente, José Luiz Portella, José Serra, Jurandir Fernandes, Mário Covas, Metrô, MPF, Patrocínio, Portelinha, Processar, Propinoduto, PSDB, Reeleição, Ronaldo Moriyama, São Paulo, Sérgio Avelleda, Siemens, Tucano
7 de dezembro de 2014 às 21:39
As pessoas honestas e instruídas deste país têm de se convencer de que politizar e partidarizar a corrupção não leva a nada e, ao contrário, perpetua a corrupção. É preciso passar o Brasil a limpo, investigar tudo, inclusive coisas antigas, mesmo prescritas (sobre investigar seu governo FHC afirmou: Meu governo pertence à história), para efeito pedagógico. Pessoas honestas e instruídas não se ligam às campanhas políticas que querem, apenas, assumir o poder, derrubando a presidenta eleita; no passado, impediram toda investigação.
19 de agosto de 2013 às 8:29
Republicou isso em O LADO ESCURO DA LUA.
18 de agosto de 2013 às 18:38
Se vai ficar por conta do MP, o ex-presidente pode dormir tranquilo por longos anos. O pessoal de lá parece que tem um certo estrabismo…