Via Brasil 247
A jornalista Suzana Singer, ombudsman da Folha, afirma que o noticiário do jornal sobre o caso Siemens teria sido mais equilibrado se tivesse citado que o escândalo dos trilhos do Metrô, denunciado pela multinacional alemã, se deu em governos tucanos. Embora cautelosa, Suzana admite que o jornal errou ao preservar o PSDB em seu noticiário sobre o escândalo Siemens nas obras do Metrô. Leia abaixo a autocrítica:
No caso Siemens, jornal errou ao preservar, no início, o PSDB, mas acertou ao não propagar acusações sem provas.
Há duas semanas, a Folha vem sendo alvo de uma “guerrilha verbal” na internet, para usar uma expressão que o jornal cunhou no editorial “Mitos das redes sociais”, do domingo passado.
O objetivo dos “guerrilheiros cibernéticos” é levar a Folha a publicar denúncias sobre o envolvimento de políticos tucanos no cartel formado em licitações de trem e Metrô de São Paulo.
As armas dessa guerrilha são a divulgação de reportagens da “IstoÉ”, posts em blogs governistas e correntes no Facebook acusando o jornal de “blindar o PSDB”.
Para saber se a causa dessa militância é justa, é preciso separar opinião e fato. Foi a Folha quem primeiro divulgou que a multinacional Siemens fechou um acordo com as autoridades antitruste brasileiras para delatar a existência do cartel, do qual ela própria fazia parte.
Em 14 de julho, o assunto ocupou a manchete. A reportagem informava que o cartel funcionou em ao menos seis licitações, mas alertava que “não se sabe ao certo o tamanho real, o alcance, o período em que atuou e o prejuízo causado”.
Dez dias depois, a IstoÉ estampou “O propinoduto do tucanato paulista”, com uma reportagem que retomava o depoimento, de 2008, de um ex-funcionário da Siemens. O denunciante, anônimo, tinha planilhas que comprovariam a formação de cartel e o repasse de dinheiro para offshores de lobistas.
Embora a revista tenha rasgado duas fotos de Geraldo Alckmin e José Serra, o texto não trazia evidência de envolvimento dos governadores nem de pagamento de propina. Havia apenas o ex-funcionário falando de subornos a políticos, “na maioria tucanos”, e a diretores da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Esse mesmo depoimento tinha sido publicado em 2009 pela CartaCapital, mas, na época, não teve maior repercussão.
Segundo a Secretaria de Redação, a Folha não recuperou a informação publicada pela revista porque o denunciante se recusou a falar sobre o caso para o jornal.
No final da semana passada, a IstoÉ voltou à carga, desta vez tentando quantificar o tamanho do prejuízo causado pelo superfaturamento de trens e Metrô. A fonte eram “pessoas ligadas à investigação”, que corre no Ministério Público de São Paulo e no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A conclusão era que os cofres paulistas perderam R$425 milhões.
A Folha “respondeu” com uma reportagem em que afirmava que o “cálculo do que foi superavaliado depende de levantamento de contratos assinados pela CPTM e pelo Metrô”, o que ainda não foi feito.
O jornal, acertadamente, evitou repercutir o que não era apuração própria, mas cometeu um erro: as duas reportagens publicadas até então não mencionavam que partido estava no governo quando o cartel atuava.
O quadro publicado junto aos textos listava várias licitações sob suspeita sem mencionar que elas ocorreram em gestões tucanas –entre a “prática criminosa que trafegou sem restrições pelas administrações Covas, Serra e Alckmin” (IstoÉ) e a assepsia do noticiário da Folha, era possível deixar o noticiário mais informativo e equilibrado.
“Folha noticia caso do superfaturamento do Metrô de São Paulo […] e não cita o nome de ninguém do governo tucano. Nunca vi nada igual!! Rabo preso com o PSDB??”, tuitou, na segunda-feira, o deputado federal Ricardo Berzoini (PT/SP). O blog Tijolaço lançou outra frase de efeito para ser repassada pelos “guerrilheiros”: a Folha inventou a corrupção sem corruptor.
A manchete de anteontem – “Governo paulista deu aval a cartel do Metrô, diz Siemens” – silenciou boa parte dos críticos. Pela primeira vez, o nome de um tucano (Mário Covas) apareceu em destaque no jornal.
A reportagem, baseada em documento apresentado pela Siemens ao Cade, dizia que o governo de São Paulo é acusado de ter dado aval para a formação do cartel e que esse conluio teria perdurado durante as administrações Alckmin e Serra.
Foi dado espaço ao “outro lado” e tomou-se o cuidado de não partir para conclusões precipitadas, como fez a “guerrilha cibernética”, interessada em divulgar, com estridência, acusações não fundamentadas.
Como lembrou o colunista Elio Gaspari, o fato de uma empresa do tamanho da Siemens estar disposta a colaborar cria uma oportunidade ímpar de “expor o metabolismo das roubalheiras nacionais”.
O jornal não pode perder essa chance. Só que sem timidez nem açodamento.
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Tags: Folha de S.Paulo, Ombudsman, Propinoduto, São Paulo, Suzana Singer, Tucano
18 de janeiro de 2016 às 14:53
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O TRENSALÃO TUCANO
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Agora eu vou poetizar
Um assunto que me inquietou
Em versos vou transformar
O escândalo do Metrô
Que ocorreu em São Paulo
Sob as barbas de Geraldo
José Serra e Mário Covas
Que deram aval para a formação
De um cartel com especialização
Em fraudar licitações de obras.
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O CADE tem investigado
O escândalo cujo refém
É o povo que fica apertado
Dentro dos lotados trens
E só existe investigação
Porque a Siemens pôs nas mãos
Do CADE vários documentos
Que comprovam que o PSDB
Recebia propinas ao fazer
Parte do esquema fraudulento.
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Há denúncias formais da Siemens
Dando conta de que os psdbistas
Aprovavam as aquisições dos itens
Que constavam em enormes listas
De obras e equipamentos
E o faziam mesmo sabendo
Que tais valores eram combinados
Assim o Estado pagava mais caro
Por bens e serviços e é claro
Que os políticos eram recompensados.
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Fala-se em punir as empresas
Envolvidas nesse episódio
Mas ninguém tem a grandeza
De punir os políticos criminosos
Que ao longo de vinte anos
Roubam paulistas e paulistanos
Sem que isso vire notícia
Será que existe outro cartel
Formado pela Mídia de aluguel
E pela seletiva Justiça?
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Eduardo de Paula Barreto
7 de agosto de 2013 às 9:41
Sra. ombudsman, fico feliz em ver um órgão de imprensa de extrema direita, reconhecer seus erros, no entanto, é muito pouco, pois se o partido envolvido fosse o PT, por exemplo, com certeza a folha teria “escrachado” o partido e todos os políticos envolvidos, pois em outras ocasiões esse jornal, praticamente fez campaha aberta contra os políticos do PT e seus candidatos. De qualquer maneira esse órgão de imprensa ganhou meio ponto percentual no meu conceito, ou seja passou de zero para 0,5%.
6 de agosto de 2013 às 23:00
Republicou isso em O LADO ESCURO DA LUA.