Fernando Brito, via Tijolaço
O Estadão divulga hoje [3/6], com certo ar de surpresa, os dados de uma pesquisa Ibope mostrando que a emenda constitucional que deu aos empregados domésticos os mesmos direitos de todos os trabalhadores tem o apoio de 91% dos brasileiros.
E não podia ser diferente, pois isso equivaleria a perguntar se alguém é contra ou a favor da escravidão. Mas não se iluda, tem gente que é.
Há dois anos apenas, o Tijolaço reproduziu trechos de uma deprimente matéria do mesmo Estadão sobre dondocas paulistanas que tinham formado um tal “Grupo Antiterrorismo de Babás”, destinado a “se proteger da ‘petulância’ das funcionárias, dar dicas sobre o que fazer em caso de ‘abuso de direitos’ e ainda trocar ideias sobre cabeleireiros, temporadas de esqui em Aspen e veraneios em condomínios do litoral norte”.
Lamentavelmente, estas senhoras não foram processadas, porque o Ministério Público está muito ocupado com política e nosso Ministério da Justiça lembra aquela piada do tempo da ditadura, quando um adido militar brasileiro espantou-se com a presença de oficiais da Marinha boliviana e perguntou-lhes como tinham Ministério da Marinha se não tinham mar. E a resposta foi: mas vocês não têm Ministério da Justiça no Brasil?
Felizmente essa elite escravocrata é uma minoria muito, mas muito mais reduzida que a própria minoria que possui empregada doméstica mensalista no Brasil: apenas 4% das famílias, segundo o Ibope.
E mesmo essas tem de ser ajudadas a manter, com simplicidade e correção, aquelas trabalhadoras em condições dignas e respeitosas. O portal lançado hoje pela Previdência Social vai simplificar a vida dos empregadores domésticos no controle de suas obrigações e as do empregado.
O resto, sobretudo o terrorismo da mídia sobre uma explosão de desemprego entre as domésticas e a ruína dos seus empregadores, era balela. Ou se suas cabeças colonizadas preferem exemplos norte-americanos, algo como fazem os confederados no filme Lincoln, de Spielberg, quando se recusam a aceitar a abolição da escravatura argumentando que isso arruinaria sua economia.
Tags: Classe média, Domésticas, Elite, Empregadas, Escravidão
5 de junho de 2013 às 9:33
Pois é, o uso do cachimbo (quatro séculos de uso) faz a boca torta (mesmo um século mais vinte e três anos após a perda do cachimbo). Emília Viotti de Souza, em seu clássico Da Senzala à Colônia mostra a dificuldade das elites pós-abolição em conviver com o trabalho livre, espantando os migrantes; chegaram a importar cooleis, chineses pobres e submissos, achando que eles “não dariam trabalho”, e nem eles aguentaram. O jeito foi apelar para solução doméstica, os e-escravos. E a Missão Penedo na Europa, para convender os migrantes, que fugiam das condições de trabalho no Brasil, a virem para cá; haja diplomacia. E o filme de Tuzuka Yamazaki, Gaijin, sobre a imigração japonesa . Etc. Quantidades de imigrantes para a América do Sul, vindas, sobretudo, da Itália e interessadas no Brasil, tiveram de preferir Argentina ou EUA, devido às condições de quase escravidão do trabalho em nosso país. trabalho em nosso país. Que perdemos! E o pior é que as bocas das elites patrícias ainda não se desentortaram; pergunte ao MTE.