O olhar reprovador dirigido a Joaquim Barbosa foi uma inovação no campo da sinceridade política.
Paulo Nogueira em seu Diário do Centro do Mundo
E Dilma vai chegando à metade do mandato, sob aprovação da maior parte da população, como mostram as pesquisas. Segundo o Datafolha, ela venceria hoje as eleições no primeiro turno. Lula também.
Dilma ganhou luz própria, e isso foi um de seus maiores feitos. Na Rússia, Medvedev ficou sempre na sombra de Putin mesmo enquanto foi presidente. Dilma não. A despeito da lealdade irretocável a Lula, ela segue seu caminho.
Do ponto de vista interno, seu maior acerto é a clareza de que o Brasil não tem muito do que se orgulhar, mesmo à beira de ser a economia do mundo, enquanto houver tantos milhões de miseráveis.
Governar sob esta divisa é, inegavelmente, bom para o país.
Do ponto de vista de política exterior, Dilma não se alinhou ao bolivarianismo de Chavez na Venezuela, e nisso destoou de colegas como a argentina Cristina Kirchner, o equatoriano Rafael Correa e o boliviano Evo Morales. Mas fez questão de incluir em sua fala, numa visita aos Estados Unidos, um pedido para que chegue ao fim o bloqueio econômico que os estadunidenses impõem a Cuba.
Outro bom instante de Dilma foi não se impressionar – ao contrário da mídia – com o sermão dado pela Economist com ares imperiais. Ora, a Economist não conseguiu resolver sequer os problemas de seu país, a Inglaterra, e nem os seus próprios, aliás: vai sendo castigada intensamente pela internet sem achar respostas satisfatórias para a surra.
Mesmo assim, em seu tom doutoral, a Economist – que não está na primeira divisão na mídia inglesa, tradicionalmente voltada para jornais e não para revistas – dá receitas de salvação para o mundo todo. Ninguém ouve, exceto no Brasil.
Mas o maior momento de Dilma, nestes dois anos, foi captado por um fotógrafo [Gustavo Miranda] de O Globo: o olhar furioso que ela endereçou a um estranhamente sorridente Joaquim Barbosa no velório de Niemeyer. Foi quando a transparência se encontrou com a hipocrisia.
Dilma trouxe, ali, uma cena rara na alta política nacional: a sinceridade. Alguns críticos disseram que ela desrespeitou o Supremo, mas é um erro. Se, diante do caixão de Niemeyer, Dilma mostrou falta de respeito, o alvo não foi o Supremo, mas a pessoa física de Joaquim Barbosa.
Não se sabe como a história julgará Joaquim Barbosa, se como um herói anticorrupção ou um Vichinski que destroçou a presunção de inocência, mas o que vimos é que Dilma já parece ter feito seu julgamento pessoal.
Não estamos acostumados à sinceridade na política, e provavelmente por isso o gesto de Dilma causou tanta celeuma.
Compare a atitude de Dilma com a de Lula na morte de Roberto Marinho, em 2003. Lula não apenas decretou luto oficial de três dias como sublinhou, em Roberto Marinho, “quase um século de vida de serviços prestados à comunicação, à educação e ao futuro do Brasil”.
Sêneca escreveu que ao pensar em certas coisas que dissera invejava os mudos. Presumo que Lula, ao lembrar de suas palavras sobre Roberto Marinho, sinta algo parecido. A retribuição a elas está expressa, todos os dias, nos múltiplos colunistas das Organizações Globo.
Neste ponto, o da franqueza, Dilma representou um avanço sobre Lula.
Tags: Dilma Rousseff, Foto, Gustavo Miranda, Joaquim Barbosa, Olhar, Oscar Niemeyer, STF, Velório
28 de dezembro de 2012 às 15:10
Além do que, o local não era adequado para sorrisos. Era o velório, de uma pessoa que tinha ajudado a construir Brasília, de notório conhecimento arquitetônico, no Brasil e exterior. Quem está esquisito é o senhor JB. dilma perfeita.
27 de dezembro de 2012 às 22:54
Um presidente governa para todo o seu Povo, mas deve fazê-lo usando sua personalidade Perante um ministro que julgou o mensalão seguindo as orientações duma mídia golpista que segue as orientações do PSDB, D.Dilma mostrou seu descontentamento que ainda não foi maior porque usa muita moderação em suas atitudes. É uma estadista!